Hold on, the light will come.

Já estavamos nisso a um bom tempo e eu o evitava com toda a força que dispunha, com um toque sutil de simpatia, afinal, ele era meu amigo e eu o adorava muito.

Ele me cercava por todos os lados e eu sempre procurava fugir quando as coisas realmente ficavam embaraçosas. As vezes, era mais dificil, porque ele conseguia tocar meu coração com palavras carinhosas e me fazer sentir amada... do jeito que vc fazia quando estava aqui, e era nessas horas que me lembrava das mais simples sensações que tivemos juntos e espalhava nossas lembranças pelo chão de meu quarto. Tentava sentir as lembranças no presente, fazendo o passado se confundir com um futuro distante e incerto.

Mas naquela noite, logo após uma semana tenebrosa e sem vida, com o céu se juntando a mim nas lágrimas, naquela calçada de uma rua qualquer com um posto de gasolina abandonado, ele veio me consolar (minha mãe havia lhe dito onde estava) e me senti tão bem. Ele tinha as palavras certas, os carinhos certos, ele realmente conseguia fazer o desespero amenizar.

Envolta em seus braços amigáveis, já estavamos lavados pela chuva.

-Até quando ficará consentindo em sofrer? - ele me perguntava isso tantas vezes e sempre tive a resposta na ponta da lingua de que valeria a pena e que tuo daria certo no final, mas dessa vez não saiu tão automático e eu refleti mesmo antes de dizer algo. Daria certo mesmo? Valeria a pena? Vc sofreria como eu? As coisas que me lembravam vc, também lhe faziam lembrar a mim? E quando estivesse aqui, ficariamos mesmo juntos? Na verdade, eu não me desesperava, por autocontrole, mas eu tinha medo e, vc estava saindo da minha vida a casa experiencia nova que eu passava com a sua ausência. Vc estava apagando, como fogo sem lenha, que apenas fica com sua pequena chama acesa por cinzas espalhadas e secas.

Percebendo minha confusão e dilema interno, ele me encurralou em seus braços, me abraçando com força.

-Se permita ter alegria novamente! Abra seu coração para novas coisas. Vc precisa disso. - e não era que ele estava certo? Eu precisava mesmo disso. Uma nova alegria, um novo motivo.

-Se deixe amar novamente. - e ele se aproximou gradualmente de meu rosto e tudo fervilhava em minha mente e tinha de decidir nesses 5 segundos que havia entre ele e meus lábios.

Eu fechei os olhos e... baixei a cabeça, encostando meus dedos levemente sobre sua boca. Ele parou com classe e me olhou.

-Posso chorar agora, vou sofrer muito mais ainda! Mas ninguém me disse que seria fácil, mas me prometeram que valeria a pena. Eu não sei o que vai acontecer, mas não quero me arrepender por não tentar. Eu não tenho nada para continuar em frente, mas eu vou mesmo assim, porque... é a ele que eu amo, e por isso, eu vou lutar, mesmo que eu perca. Vc pode estar aqui, mas não é ele. - tentei ser delicada e gentil e deixar minha voz firme entre os nós na garganta que as lágrimas me faziam.

Era verdade, não tinha nada para seguir em frente, mas eu precisava, porque não podia trair meu coração. Eu queria que meu passado, fosse meu futuro, por isso não conseguia olhar para frente e para trás ao mesmo tempo, mas o jeito era aceitar a realidade e rezar para se, por um acaso, vc voltasse mesmo para mim. É, quem sabe fosse apenas esse 'se' que me deixava em pé todas as manhãs.

Ele se afastou, mas não me soltou.

-...sorte! - ele sorriu e baixo a cabeça. O barulho da chuva me impediu que o ouvisse bem.

-Sorte? De que? - por favor, me diga, de que? Não desejava essa situação a ninguém.

-Que sorte que ele tem por ter vc.

Ele podia ter ido embora, mas certamente um dia voltará e quem sabe pense da mesma forma.

Eu sentia sua falta, e era dificil mesmo suportar tudo, mas eu sabia que também tinha sorte de ter vc, ou havia tido essa sorte no passado. Quem sabe, por enquanto.

A chuva parou.

-by Elize Blackemore