quinta-feira, 14 de maio de 2015

Salvation

Eu subi as escadas da saída de emergência do prédio e o ranger do alumínio era desesperador.
Era a terceira vez que estava tentando escapar do enclausuramento que me deixaram, e era a terceira vez que viam atrás de mim sem muito intervalo entre minha fuga.
Sempre conseguiam me pegar e dessa vez nao foi diferente.
O lider dos sequestradores me agarrou quando estava subindo um das ultimas escadas do prédio, me imobilizando com um abraço de urso forte e me jogando no chão com força.
"Calminha ai. Calminha ai." repetiu ele com sua voz arrastada de patife que eu já tinha cansado de ouvir.
"Me deixa ir, me deixa ir pra casa" eu implorava, sempre em vão.
Ele me amarrou com uma corda rapidamente e empurrou escada abaixo. Os becos eram tão desertos e o bairro tão imundo e perigoso que mesmo com meus pedidos de socorro, ninguem ousava sair para ajudar ou ao menos ligar para policia. Ali, se quisesse ficar vivo, ficava de boca fechada.
Descendo todas as escadas, ele me jogou dentro do furgão com cheiro de rato morto, me levando novamente para 'o quarto', como eu acabei nomeando.

"Saiu de novo, a fedelha?" perguntou um dos panacas quando chegamos novamente na casa aos pedaços, sem reboco e velha que me mantinham.
Ou melhor, nos mantinham.
Eu me sacudia sem parar e como sou pequena, era mais fácil de quisesse passar por debaixo das pernas, mas não adiantou nada.
"Não foi na minha tocai" afirmou o outro com uma garrafa de bebida na mão.
O chefe não disse nada, apenas me levou para dentro e me jogou no quarto minusculo, com uma janela com grade e persianas quebradas, em uma das camas com ferrugem e colchão rasgado. Eu cai de lado, batendo o ombro da quina da cama.
"Pode me soltar agora" eu disse, arfando pela corrida ainda.
Ele me encarou e chamou o capanga que estava bebendo, disse algo no ouvido dele que o fez sorrir e sair.
Eu sabia o que ia acontecer agora.
"Vc sabe que não pode sair daqui, e sabe o que acontece quando sai." disse com um sorrisinho de lado pavoroso. "tem que servir de lição para todos."
Com todos ele quis dizer todos que estavam ao meu redor no quarto minusculo ouvindo a conversa. Eu não entendia se eles eram apenas doentes da cabeça ou se esperavam receber algo por aqueles sequestros, mas tinha de tudo lá: crianças, adolescentes e idosos, todos nós enjaulados no mesmo canto e com o mesmo medo. Eu era uma das mais antigas lá, exceto pelo Jack, o John e o Eliseu, que eram os idosos, que mal tinham reação para qualquer coisa mais. Eles nunca me disseram a quanto tempo estavam lá, mas considerando que era minha terceira fuga, talvez possa imaginar.
O bêbado voltou com um maçarico.
Tentei me levantar, mas com os braços ainda presos, mal consegui me mover no chão, e o chefe me ergueu e me segurou em um abraço de urso comigo de costas.
Eu gritava para qualquer um me ajudar, mas todos os recém chegados estavam apavorados e o antigos da casa, já não tentavam mais nada.
"Pegue o calcanhar agora" disse.
Sempre que eu tentava fugir, eles queimavam alguma parte do meu pé. O meu dedo médio já estava cicatrizando, mas minha sola ainda estava um tanto sensível em carne viva.
O chefe me segurou com força e o panaca bêbado começou lentamente a aproximar o maçarico e eu enfiei meu rosto entre as blusas e jaquetas dele e tentei não gritar, segurando ao máximo que podia a dor lancinante de uma pele queimada.
Depois de uns 5 minutos disso, ele me soltou no chão, me desenrolou da corda e saíram calmamente, trancando a porta.
Eu estava muito tonta e pensar em me mexer já doía, então fiquei ali parada por mais ou menos 2 horas, encima do piso de madeira mofada, entre acordada e desmaiada.
Depois de um tempo, Eliseu finalmente saiu do seu canto do quarto, onde ficava sempre, todos os dias olhando pra parede, e foi até mim. Arrancando um pedaço de sua blusa, o menos sujo, e tentou enrolar o meu pé para pelo menos não ter contato com o chão sujo.
Ele fez isso sem dizer nada.
Todos cochichavam entre si lá dentro, os adolescentes mais velho protegendo as crianças, e as crianças chorando. Eu mal sabia o nome delas.
"O... obri...obrigada" disse eu assoprando praticamente um agradecimento, pois era tudo que eu conseguia fazer já que queria continuar a engolir os gemidos de dor.
Ele acenou com a cabeça e não disse nada.

- By Elize Blackmore
(inspirado em um sonho recente.)

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Jenny, voce ainda visita isso ou so eu que leio o que voce escreve?

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  3. olaa! eu ainda visito sim, mas estou postando muito raramente :( mas eu tenho mais 3 postagens planejadas! alias muuuuito obrigada por ler

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