Ele se escondia em uma fenda na montanha, já que toda a caça que fazia por ali era ilegal e não podia ser encontrado.
Ele não precisou me amordaçar, não importava o quanto eu gritasse, não havia nada e ninguém a léguas de distancia.
Arrastado escada a baixo, tentei me desvencilhar da mão enorme que me agarrava o braço, mas a gigante salamandra verde que ele tinha chamada Joanna, sibilava para mim ameaçadoramente. McLeach, o caçador, me encostou na parede e puxando facilmente uma corda do seu balcão, me amarrou com as mãos para trás, machucando meus pulsos pela força, e me arrastou para me sentar em um casco de tartaruga que usava como cadeira.
O casco de uma tartaruga jovem…. estava vazio.
McLeach me encostou na parede, de costas para um mapa grudado bem grande da região . Eu olhei em volta e reconheci as localidades naqueles lugares como a palma da minha mão. Enquanto alguns conheciam muito bem cada mata para caçar, alguns conheciam muito bem para salvar a todo o custo. Ele começou a esquentar um grande caldeirão de água em sua lareira que servia de fogão. O lugar era mofado, sujo, apertado e frio, coberto de cascalho de pedras, e com poucos utensílios domésticos. Indo até uma gaveta, ele pegou três facas enormes.
-Vamos ver o que podemos fazer para refrescar essa sua… memória enferrujada.
Meu coração congelou, e a tremedeira ficou ainda mais visível.
McLeach me sequestrou no meio do caminho para casa, quando viu o presente que havia acabado de ganhar: Uma pena dourada gigante, da águia que havia libertado de uma armadilha e passei a amar tão rápido, chamada Marahute. McLeach estava atrás dela a meses, já que era uma espécie ameaçada de extinção e haveria muito dinheiro envolvido em empalhar, despenar, vender para zoológicos internacionais…
Ele sabia que eu sabia onde era o ninho e onde ela descansava, e eu também sabia que se dissesse algo, a mataria e me arrependeria disso pro resto da vida.
-Será que ela está na Serra Satã… - McLeach falou alto e arremessou a faca em minha direção com força.
A faca furou bem na localidade da serra no mapa atrás de mim, e o meu coração quase saia pela boca e eu tinha certeza que estava pálido como um ovo.
-Ou no Canyon do pesadelo? - arremessou outra faca que pousou ainda mais próxima de mim.
Eu quase suave frio agora.
-O que acha joanna? - ele se virou para seu bichinho de estimação, que se banhava em uma bacia de água morna e sibilava em resposta. -é… é isso! Deve estar bem ali no meio, na cascata dos crocodilos não?
Eu conhecia o mapa, se o Canyon estava a minha esquerda, então o cascata estava um pouco a cima da minha cabeça. Eu olhei para os lados rapidamente, travando de medo.
Ele arremessou a faca com força, e eu baixei por reflexo e ela passou ainda muito perto de mim, senti sua lamina soar em meu ouvido antes de furar a parede.
-Estou ficando quente? - falava com um olhar vidrado em mim, com um sorriso maléfico.
Tentando parar de tremer e fazer minha voz sair controlada, respondi:
-Eu já disse, eu não me lembro.
-Será que vc não sabe que uma ave daquele tamanho vale uma fortuna? - ele avançou para cima de mim, empunhando a ultima faca e cravou ela a milímetros do meu rosto e quase colou seu nariz com o meu.
-Uma criança como vc, não vai receber oferta melhor do que a minha. - disse com hálito de bebida e falta de pasta de dente, sorrindo como lunático.
Ele prometerá me deixar ir e 50% do valor de Marahute se dissesse onde que ela estava e seu ninho. A prepotência de um caçador ilegal é revoltando, mas de McLeach superou todos os babacas que já tinha visto, e aquela oferta me ofendia juntamente com a raiva de estar impotente diante disso. Mas com o triunfo de apenas eu ter a informação que ele precisava, respirei fundo, com raiva no olhar.
-não tem dinheiro nenhum depois que os guardas te pegarem. - disse firme, franzindo a testa e segurando o olhar para não demonstrar meu medo.
O sorriso desapareceu e a raiva emergiu.
Ele soltou a faca perto do meu rosto e a deixo lá, se afastando gradualmente de mim, encurvado e com os punhos cerrados. Ele foi até o caldeirão com a água já fervendo e borbulhando.
Fiquei olhando firmemente para ele, imaginando se não ia me torturar jogando a água em mim ou colocando meus dedos, não sei! Tudo passa pela cabeça de alguém com medo.
McLeach rosnou em frente ao fogo e gritou alto de raiva, chutando o caldeirão com toda a força com o pé, fazendo respingos de água irem para todos os lados e a água se esparramar no chão com muito vapor. Joanna se assustou e se encolheu dentro da bacia.
Tremendo ainda, e respirando o mais silenciosamente possível, sabia que aquele cativeiro ia ser longo, porque nenhuma das partes ia ceder.
- By Elize Blackmore
(releitura de Bernardo e Bianca II)
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