quinta-feira, 29 de setembro de 2016

BattleField

​-mais café na mesa 3 Alisson.
-já estou indo, pera ai. - respondeu a jovem garçonete limpando os farelos de pão da mesa 5 ainda que um garotinha tinha deixado.
Foi até o balcão e jogou o paninho na pia e pegou a jarra de café, limpando a outra mão no avental.
-café? - ofereceu chegando a mesa 3.
-Obrigada querida! - respondeu a fiel cliente.
Alisson sorriu.
-Esta sabendo da novidade querida? - perguntou a cliente, com os olhos brilhando e fixos em Alisson. -O que? Vou finalmente ganhar uma gorjeta? - disse ironicamente ela para cliente, com os olhos brilhando também.
-Melhor que isso sua tolinha! Fiquei sabendo que o proximo navio de carga vem trazendo algo de valor de verdade! - disse a cliente baixando a xícara de café e dando um tapinha na perna dela.
-Dona Steffane, continua saindo com esses marinheiros babões?
Dona Steffane ruborizou.
-Ora Alisson, a carne é fraca! Sabe que músculos, uniforme e cerveja me deixam doidinha.
Alisson rio e balançou a cabeça.
-Enfim! Fiquei sabendo que eles irão até uma ilha longínqua a pedido de um rei buscar seus filhos que estão fugindo, e virão pra cá, esse pais esquecido pelo Criador. - disse tomando um gole do café fumegante.
Alisson torceu a face com confusão e desgosto. Não havia nada que mais quisesse com tanta força do que ir embora daquele lugar.
-Para fazer o que aqui?
-Ninguem sabe! Só estão cumprindo ordens, até porque, a bufunfa vai ser das grandes. Pode ser sua chance querida. - Steffane deu mais um tapinha na perna.
-De que?
-De conseguir um namoro bom pra vc, e melhor ainda, um principe. - os olhos de Steffane brilharam. Dona Steffane foi baba de Alisson quando era pequena, quando seus pais se separaram e seu pai sempre tinha rondas noturnas para fazer como vigia do bairro.
-Vc sempre querendo me casar com alguém. Sabe que não ligo para isso agora, quero só sair daqui e correr pro Inglaterra para fazer meu intercâmbio.
Ela sempre teve vontade de estudar fora, mas quando sua familia de desmantelou e deixou de ser 'fácil de lidar' como qualquer familia Sul Americana, correr daquele lugar virou a prioridade de sua vida.
-Claro minha querida! Mas com essa piada de salário que recebe aqui nunca conseguirá, mas nada que uma coroa cravejada de diamantes não resolva, não é? - ela deu uma piscadela para Alisson que riu e concordou com a cabeça.
-E ela lá faz por merecer? Vamos Alisson! Mesa 7 está chamando. - disse Alexandre, dono do estabelecimento que a chamou por cima do balcão.
-Cadê a Amanda? Ela tá sempre em pausa é? - disse Alisson dando uma piscadinha para Steffane e indo até a mesa.
-Não reclame! Essa piada de salário é o que eu posso te pagar por ser tão molenga. - disse ele, limpando os copos na pia, bufando.
Alexandre não era uma pessoa ruim, na verdade, Alisson gostava muito dele e ele cuidava muito bem dela, do jeito rabugento dele, mas cuidava.

-Voce vai trancar aqui Amanda? - gritou Alisson no final do expediente.
-Pode deixar, eu vou trancar, vai embora logo. - resmungou Amanda, puxando mais um trago no cigarro.
-Então tchau! - correu ela para fora da loja, vestindo o casaco e jogando a mochila nas costas, finalmente a caminho de casa.
O ar saia pela boca resfriado. O inverno estava realmente pegando pesado esse ano, o que era raro em um pais equatorial.
Alisson chegou em casa o mais rápido que pode e jogou a mochila no chão e foi direto pro sofá.
-Pai? - gritou, mas não teve resposta. -hmm… deve estar na ronda dele já.
O pai dela era aposentado já, devido a um acidente de trabalho nas pernas, o que o fez ficar muito tempo na reabilitação. Com todo o dinheiro gasto, com todas as depressões, privações e afins, a mãe da garota não aguentou e se mandou de um dia para o outro, deixando eles a se virarem.
E foi o que fizeram por muito tempo. ​ Alisson teve que mudar de escola, tiveram que vender a casa e mudaram para um apartamento menor, mas eles se viraram.
Com muita preguiça subia para seu quarto e arrumou suas coisas para o dia seguinte, e com a janela aberta, podia ver o porto com o mar calmo, a luz da lua brilhando azulada tremeluzindo e navios, cordas, contenders e pequenas luzes amarelas dos marinheiros com seus lampiões em rodas.
Allison sorriu ao pensar: príncipe… até parece! Ainda existe algum lugar que a realeza tenha que fugir para se salvar? Que piada Steffane.

Mas em um daqueles contenders pela janela, grande e frio, havia a realeza fugitiva, que tremia, sujos e com medo, respirando pausadamente para não serem ouvidos, abraçados, irmão e irmã, rezando para não serem traídos por aquelas pessoas que seu pai arranjou para os levarem para longe enquanto tudo desmoronava léguas atrás deles.
-E se morrermos aqui Peter? - diste a garota, a boca mal mexendo, e os olhos cheios de lagrimas.
-Vai dar tudo certo Lucy, é só por enquanto, logo estaremos em casa. - respondeu o irmão, tentando sorrir e retirando aquele luz quase inexistente de esperança que tinha, para acalmar a irmã, mas ele mesmo não acreditava em suas palavras.
As portas enferrujadas do contender sacudiram quando pousaram no chão e os irmãos caíram para o lado pelo impacto. As portas rangeram ao se abrirem e dois homens altos, adultos e com lanternas os chamaram baixinho pelo nome.
-Estamos aqui. - sussurrou Peter, ajudando a irmã a se levantar.
-Venham conosco, temos que correr, um carro nos espera.
Peter ergueu a irmã que foi correndo ao encontro do homem, quando ele a segurou pelo braço.
-Quem são vcs? Como saberemos se são os homens que nosso pai contratou? - perguntou serio e Lucy, recuando devagar, ficou ao lado do irmão.
-Não temos tempo para isso moleque, vamos logo. - disse um dos homens que era mais rechonchudo e parecia de saco cheio de todo o procedimento de segurança.
-Aqui olha. - o mais barbudo retirou uma moeda dourada do bolso. - é a moeda do seu pais não é? - disse estendendo a moeda para eles, não se aproximando.
Peter verificou a moeda e viu talhado no metal precioso a foto de seu tatara tatara tatara tatara tatara tatara avô. Fez sinal para Lucy e ambos saíram correndo do contender e seguiram os homens até um carro preto que estava perto do cais.
O carro estava quente e macio, e Lucy se aninhou em seu irmão, para aquecer mais rápido, e logo caiu no sono, já que nenhum dos dois havia conseguido dormir na viagem.
-Calma! Vamos levar vcs para um lugar seguro. - disse o rechonchudo, que vendo os irmãos assim, tão indefesos, sujos e cansados, teve empatia por eles. -Durmam um pouco, teremos que ir até o outro lado da cidade.
Peter queria ter conseguido ficar acordado, para ver a cidade, ver como eram as pessoas e quanto seria difícil de adaptar, mas logo que o carro começou com sua sacudida leve, o rádio baixinho com uma musica tranquila, deixou-se cair no sono.

No cais, alguns momentos depois dos irmãos serem levados, uma figura negra saiu do canto escuto do mesmo contender, se arrastando como se estivesse machucado, e sumiu por entre os barcos, cordas e pequenas luzes dos lampiões dos marinheiros e como se nenhum mal estivesse para acontecer.

-by Elize Blackmore
(inspirado em um sonho)

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Tomorrow is another day

Fui arrastado para dentro do covil do caçador pela blusa, quase sendo rasgada.
Ele se escondia em uma fenda na montanha, já que toda a caça que fazia por ali era ilegal e não podia ser encontrado.
Ele não precisou me amordaçar, não importava o quanto eu gritasse, não havia nada e ninguém a léguas de distancia.
Arrastado escada a baixo, tentei me desvencilhar da mão enorme que me agarrava o braço, mas a gigante salamandra verde que ele tinha chamada Joanna, sibilava para mim ameaçadoramente. McLeach, o caçador, me encostou na parede e puxando facilmente uma corda do seu balcão, me amarrou com as mãos para trás, machucando meus pulsos pela força, e me arrastou para me sentar em um casco de tartaruga que usava como cadeira.
O casco de uma tartaruga jovem…. estava vazio.
McLeach me encostou na parede, de costas para um mapa grudado bem grande da região . Eu olhei em volta e reconheci as localidades naqueles lugares como a palma da minha mão. Enquanto alguns conheciam muito bem cada mata para caçar, alguns conheciam muito bem para salvar a todo o custo. Ele começou a esquentar um grande caldeirão de água em sua lareira que servia de fogão. O lugar era mofado, sujo, apertado e frio, coberto de cascalho de pedras, e com poucos utensílios domésticos. Indo até uma gaveta, ele pegou três facas enormes.
-Vamos ver o que podemos fazer para refrescar essa sua… memória enferrujada.
Meu coração congelou, e a tremedeira ficou ainda mais visível.
McLeach me sequestrou no meio do caminho para casa, quando viu o presente que havia acabado de ganhar: Uma pena dourada gigante, da águia que havia libertado de uma armadilha e passei a amar tão rápido, chamada Marahute. McLeach estava atrás dela a meses, já que era uma espécie ameaçada de extinção e haveria muito dinheiro envolvido em empalhar, despenar, vender para zoológicos internacionais…
Ele sabia que eu sabia onde era o ninho e onde ela descansava, e eu também sabia que se dissesse algo, a mataria e me arrependeria disso pro resto da vida.
-Será que ela está na Serra Satã… - McLeach falou alto e arremessou a faca em minha direção com força.
A faca furou bem na localidade da serra no mapa atrás de mim, e o meu coração quase saia pela boca e eu tinha certeza que estava pálido como um ovo.
-Ou no Canyon do pesadelo? - arremessou outra faca que pousou ainda mais próxima de mim.
Eu quase suave frio agora.
-O que acha joanna? - ele se virou para seu bichinho de estimação, que se banhava em uma bacia de água morna e sibilava em resposta. -é… é isso! Deve estar bem ali no meio, na cascata dos crocodilos não?
Eu conhecia o mapa, se o Canyon estava a minha esquerda, então o cascata estava um pouco a cima da minha cabeça. Eu olhei para os lados rapidamente, travando de medo.
Ele arremessou a faca com força, e eu baixei por reflexo e ela passou ainda muito perto de mim, senti sua lamina soar em meu ouvido antes de furar a parede.
-Estou ficando quente? - falava com um olhar vidrado em mim, com um sorriso maléfico.
Tentando parar de tremer e fazer minha voz sair controlada, respondi:
-Eu já disse, eu não me lembro.
-Será que vc não sabe que uma ave daquele tamanho vale uma fortuna? - ele avançou para cima de mim, empunhando a ultima faca e cravou ela a milímetros do meu rosto e quase colou seu nariz com o meu.
-Uma criança como vc, não vai receber oferta melhor do que a minha. - disse com hálito de bebida e falta de pasta de dente, sorrindo como lunático.
Ele prometerá me deixar ir e 50% do valor de Marahute se dissesse onde que ela estava e seu ninho. A prepotência de um caçador ilegal é revoltando, mas de McLeach superou todos os babacas que já tinha visto, e aquela oferta me ofendia juntamente com a raiva de estar impotente diante disso. Mas com o triunfo de apenas eu ter a informação que ele precisava, respirei fundo, com raiva no olhar.
-não tem dinheiro nenhum depois que os guardas te pegarem. - disse firme, franzindo a testa e segurando o olhar para não demonstrar meu medo.
O sorriso desapareceu e a raiva emergiu.
Ele soltou a faca perto do meu rosto e a deixo lá, se afastando gradualmente de mim, encurvado e com os punhos cerrados. Ele foi até o caldeirão com a água já fervendo e borbulhando.
Fiquei olhando firmemente para ele, imaginando se não ia me torturar jogando a água em mim ou colocando meus dedos, não sei! Tudo passa pela cabeça de alguém com medo.
McLeach rosnou em frente ao fogo e gritou alto de raiva, chutando o caldeirão com toda a força com o pé, fazendo respingos de água irem para todos os lados e a água se esparramar no chão com muito vapor. Joanna se assustou e se encolheu dentro da bacia.
Tremendo ainda, e respirando o mais silenciosamente possível, sabia que aquele cativeiro ia ser longo, porque nenhuma das partes ia ceder.

- By Elize Blackmore 
(releitura de Bernardo e Bianca II)

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Salvation

Eu subi as escadas da saída de emergência do prédio e o ranger do alumínio era desesperador.
Era a terceira vez que estava tentando escapar do enclausuramento que me deixaram, e era a terceira vez que viam atrás de mim sem muito intervalo entre minha fuga.
Sempre conseguiam me pegar e dessa vez nao foi diferente.
O lider dos sequestradores me agarrou quando estava subindo um das ultimas escadas do prédio, me imobilizando com um abraço de urso forte e me jogando no chão com força.
"Calminha ai. Calminha ai." repetiu ele com sua voz arrastada de patife que eu já tinha cansado de ouvir.
"Me deixa ir, me deixa ir pra casa" eu implorava, sempre em vão.
Ele me amarrou com uma corda rapidamente e empurrou escada abaixo. Os becos eram tão desertos e o bairro tão imundo e perigoso que mesmo com meus pedidos de socorro, ninguem ousava sair para ajudar ou ao menos ligar para policia. Ali, se quisesse ficar vivo, ficava de boca fechada.
Descendo todas as escadas, ele me jogou dentro do furgão com cheiro de rato morto, me levando novamente para 'o quarto', como eu acabei nomeando.

"Saiu de novo, a fedelha?" perguntou um dos panacas quando chegamos novamente na casa aos pedaços, sem reboco e velha que me mantinham.
Ou melhor, nos mantinham.
Eu me sacudia sem parar e como sou pequena, era mais fácil de quisesse passar por debaixo das pernas, mas não adiantou nada.
"Não foi na minha tocai" afirmou o outro com uma garrafa de bebida na mão.
O chefe não disse nada, apenas me levou para dentro e me jogou no quarto minusculo, com uma janela com grade e persianas quebradas, em uma das camas com ferrugem e colchão rasgado. Eu cai de lado, batendo o ombro da quina da cama.
"Pode me soltar agora" eu disse, arfando pela corrida ainda.
Ele me encarou e chamou o capanga que estava bebendo, disse algo no ouvido dele que o fez sorrir e sair.
Eu sabia o que ia acontecer agora.
"Vc sabe que não pode sair daqui, e sabe o que acontece quando sai." disse com um sorrisinho de lado pavoroso. "tem que servir de lição para todos."
Com todos ele quis dizer todos que estavam ao meu redor no quarto minusculo ouvindo a conversa. Eu não entendia se eles eram apenas doentes da cabeça ou se esperavam receber algo por aqueles sequestros, mas tinha de tudo lá: crianças, adolescentes e idosos, todos nós enjaulados no mesmo canto e com o mesmo medo. Eu era uma das mais antigas lá, exceto pelo Jack, o John e o Eliseu, que eram os idosos, que mal tinham reação para qualquer coisa mais. Eles nunca me disseram a quanto tempo estavam lá, mas considerando que era minha terceira fuga, talvez possa imaginar.
O bêbado voltou com um maçarico.
Tentei me levantar, mas com os braços ainda presos, mal consegui me mover no chão, e o chefe me ergueu e me segurou em um abraço de urso comigo de costas.
Eu gritava para qualquer um me ajudar, mas todos os recém chegados estavam apavorados e o antigos da casa, já não tentavam mais nada.
"Pegue o calcanhar agora" disse.
Sempre que eu tentava fugir, eles queimavam alguma parte do meu pé. O meu dedo médio já estava cicatrizando, mas minha sola ainda estava um tanto sensível em carne viva.
O chefe me segurou com força e o panaca bêbado começou lentamente a aproximar o maçarico e eu enfiei meu rosto entre as blusas e jaquetas dele e tentei não gritar, segurando ao máximo que podia a dor lancinante de uma pele queimada.
Depois de uns 5 minutos disso, ele me soltou no chão, me desenrolou da corda e saíram calmamente, trancando a porta.
Eu estava muito tonta e pensar em me mexer já doía, então fiquei ali parada por mais ou menos 2 horas, encima do piso de madeira mofada, entre acordada e desmaiada.
Depois de um tempo, Eliseu finalmente saiu do seu canto do quarto, onde ficava sempre, todos os dias olhando pra parede, e foi até mim. Arrancando um pedaço de sua blusa, o menos sujo, e tentou enrolar o meu pé para pelo menos não ter contato com o chão sujo.
Ele fez isso sem dizer nada.
Todos cochichavam entre si lá dentro, os adolescentes mais velho protegendo as crianças, e as crianças chorando. Eu mal sabia o nome delas.
"O... obri...obrigada" disse eu assoprando praticamente um agradecimento, pois era tudo que eu conseguia fazer já que queria continuar a engolir os gemidos de dor.
Ele acenou com a cabeça e não disse nada.

- By Elize Blackmore
(inspirado em um sonho recente.)

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Come what may and love it.

...Aquelas flores do parque público que pareciam contar minha vida em folhas e pétalas, acho que sempre serão as testemunhas cor-de-rosa do choro e da dúvida, da resignação, dos ‘por ques?’ e das minhas expressões com olhos longe ao nascer do sol, ainda sem esperança e ainda sem poder dizer que algo mudou, e pior, sem saber ainda quando poderei afirmar ao contrário disso.

- by Elize Blackmore for you

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Nightmare - Parte 1

Meu trabalho ao entrar naquela baile da virada no enorme castelo dos Calliham era simples: encontrar a porta que levava até o terraço e plantar uma pequena luminária com localizador via satélite para colocarmos finalmente nosso plano em prática.
Jéssica e eu entramos vestidas para a noite de gala que se alongaria até o sol nascer, ou seja, muitas pessoas dançando, gente bêbada e casais se escondendo por todas as partes, era o ambiente perfeito.
Saimos do carro alugado e nos misturamos com todos os outros convidados. Os vestidos muito coloridos e maquiagens pesadas davam o toque de ‘máscara’ para todos nós, passar por aquelas paredes ia ser fácil demais, o difícil era achar a porta.
O castelo já tinha seguranças normalmente, mas com essa super festa, os olhos e ouvidos dos homens de preto e gravata estaria mais atento que nunca, e o lugar era realmente um castelo, então portas e câmaras secretas estavam por todo o lado como bordados e gatos na casa dos avós.
Passamos no detector de metais e revistaram nossas bolsinhas minúsculas, nem que quisesse poderia levar mais de um batom naquela coisa.
Sucesso!
Jéssica olhou para mim nervosa e eu retribui com um olhar confiantemente falso. Não queríamos nos separar, mas ver duas garotas juntas, abrindo e fechando portas por todos os lados, sem nenhuma companhia, levantaria suspeitas com certeza.
Nos entre olhamos e desejamos ‘boa sorte’ ao sussurro e nos dividimos, uma para a esquerda e uma para direita.
Passar entre as pessoas era fácil, o difícil era evitar os diversos stands de brincadeiras e mágica que se estendiam pelo salão principal. Todos ficavam ao redor para ver as atrações e muitos já seguravam taças e copos de vinho, champagne e whisky. A música alta obrigava todos a terem que gritar pra conversar.
Cortando caminho entre as pessoas, olhando para todos os corredores que o salão principal levava, tinha que escolher um para começar. Fui em direção ao corredor que levava até o pátio, talvez de lá já pudesse escolher mais de um lugar e ‘me perder’ de toda essa gente.
Tentando alcançar a entrada, não apenas os garçons e as pessoas dançando eram um desafio, mas o monte de homens que pegavam em minha mão e tentavam me puxar pra uma dança ou uma conversa baforada com álcool. Me afastava o mais rápido possível, puxando minha mão depressa. Alguns brotavam na minha frente, me pegando pela cintura, e eu os empurrava para saírem do caminho. A música abafava os xingamentos.
Alcancei a saída do salão principal e o pátio estava bem mais arejado, com uma grama verde no centro e divisórias de vidro ao redor do pequeno gramado. Caminhei pelo corredor e entrei por um caminhado coberto, ali ainda era permitido para os convidados, então, nada de seguranças.
Subi uns degraus e cheguei em um corredor com alguns casais já conversando e ne aninhando nos cantos. Segui meu caminho até a única porta que havia naquele lado, fingindo ser uma ‘turista’, passeando pelo castelo.
Ao entrar por ela, vi uma escada longa que subia.
Na mosca!
Subi uma centena de degraus rotatórios rapidamente, positiva que o resultado seria direto para o terraço.
Mas tive uma surpresa.
A escada rotatória terminava, simplesmente terminava na metade, levando a lugar nenhum, deixando um espaço longo vazio com uma queda para o começo novamente.
Fiquei sem entender nada. Talvez fosse uma armadilha do castelo, essas construções antigas tinham muitas armadilhas escondidas para os tempos de guerra, talvez essa fosse para encurralar os inimigos e lhes dar apenas uma saída. Enfim não importava, tinha de voltar e sair.
Quando pensei em descer tudo novamente, já cansada pela ansiedade anterior, pensei em pular de onde estava para o começo de uma vez, não era tão alto assim e me economizaria tempo, e já que não havia ninguém, poderia pular de qualquer jeito e me recompor depois.
Assim que me preparei na beirada para pular, a porta se abriu com um baque enorme, e logo recuei para me esconder. A distância acima era razoável, mas era possível me ver da porta de entrada, e meu vestido não exatamente camuflado no escuro.
Sai da beirada, e me encolhi em um canto, rezando para que não fosse algum segurança que me avistou entrando.
“Hahahaha pare com isso” ouvi uma voz feminina meio lesada.
“Você adora quando eu faço isso” outra voz, mas masculina, também meio lesada.
Era um casal alcoolizado.
Eles subiam as escadas cambaleando e rindo alto.
Não sabia se iam subir até o topo, então fiquei paralisada esperando.
“Vem aqui” disse a voz masculina, e os passos pararam.
Só ouvi um tombo abafado na escada e um barulho de vidro se quebrando.
A respiração deles ficou ofegante e eu bloqueie o resto. Tinha que sair dali o mais rápido possível, o relógio já marcava 11h30 e eu tinha até as 6hrs no máximo para ter sucesso.
Mais um baque forte na porta. Fala sério.
“Quem está ai?” era uma voz grave e firme. Um dos seguranças desta vez.
Os passos eram fortes e subiam escada acima.
“Droga” ouvi o homem falando.
“O que pensam que estão fazendo aqui? Esse lugar não esta liberado para a festa, saiam daqui” bradou o segurança e o eco foi por toda a parte.
“Estamos saindo” disse a voz feminina, parecendo risonha ainda.
Ouvi os passos acelerados do casal saindo, mas não ouvi o do segurança.
Ele subia escada acima para verificar se havia mais alguém ali.
Tinha que pular assim que eles estivesse perto, assim poderia correr e me esconder e ele não teria tempo para me alcançar.
Os passos ficaram a meia distância de mim, e com os sapatos na mão, saltei.
Cai no pé da escada, a meio metro da porta, não tão suavemente quanto gostaria.
“Hey!” ouvi o segurança exclamar e descer apressado escada abaixo.
Levantei o mais rápido que pude, percebendo que havia torcido meu pé, e corri a toda velocidade que consegui porta afora.
Procurei algum lugar pra me esconder e nada, então refiz o caminho pelo corredor às pressas, passando e mancando entre as pessoas para o pátio.
Ao chegar, coloquei os sapatos novamente e me misturei as pessoas que estavam ali, secando o suor com as mãos e tentando andar calmamente como se estivesse apenas apreciando o lugar.
Vi o segurança aparecer arfando e olhando para todos os lados. Não poderia me reconhecer porque não viu meu rosto, então seria como procurar uma agulha no palheiro.
Pareceu frustrado e irritado, e seguiu caminho para o outro lado.
O acompanhei discretamente com os olhos e suspirei quando o vi indo embora.
Andei em direção a parede para me encostar e descansar o pé. Me encostei, relaxando a tensão das costas, colocando a cabeça pra trás e fechando os olhos por um segundo.
“Está fugindo de que?” perguntou uma voz masculina forte, mas gentil, bem próxima.
Quando abaixei minha cabeça para olha-lo e logo me desvencilhar de outro babaca, seu braço estava apoiado na parede, cercando meu lado direito e seu rosto a um palmo e meio de mim, com seus olhos muito verdes olhando pra mim, seu rosto com traços fortes, mas juvenis, com roupa social, mas sem o terno, com um sorriso de lado.
Fiquei, como se diz, sem fala por um instante.

(By Elize Blackmore)

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

The one who got away

Ela passou.
Passou com o sorriso, passou com as lágrimas, passou com os cabelos longos ao vento, passou com os cabelos curtos pintados.

Passou pelas ruas, passou pelos becos, passou pelas livrarias, passou pelas noites viradas. Passou pelos eventos, passou pela tristeza nos banheiros, passou pela comida, passou pela magreza.

Passou pelas promessas, passou pela decepção, passou pela esperança, passou pela distância. Passou pelo amor, passou pela dor, passou pela raiva, passou pelo perdão, passou pela amizade, passou pela reconciliação.

Ela passou, e não voltaria atrás, porque passar... passa.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Before the morning

Ela assoprava com todo o folego a fogueira, mas continuava vendo o fogo extinguir-se. Abanava com movimentos afoitos as cinzas e a lenha chamuscada. Ao voltar seu olhar para acima da brasa, notou que estava sozinha. 
Parou.
Baixou a cabeça, resistiu ao soluço com um suspiro, e encontrou a força para virar-se, levantar-se e ir.
Adeus.