Ela caminhava pela casa, sem rumo.
Foi para em seu quarto e decidiu parar na janela e assistir aos pingos violentos de chuva, banharem os vidros inocentes.
Ela pensou no mundo, no que havia por fora daquela toca que vivia: um mundo sujo, cheio de pessoas sem qualidades ou integridade, com risos no rosto, tentando afirmar tão falça realidade, dentro do pequeno ovo que viviam; mas ela já havia desistido de tentar mudar o mundo, pois já estava tudo escrito, composto e dito.
"Tanto pelo que morrer" pensou ela, com as emundices do mundo martelando e tricando sua cabeça. Era como se ela vivesse em uma cidade sem ninguem, apenas ela e a mutação constante da natureza a sua volta.
Ela começou a considerar que havia criado um reino, onde ela dominava, e havia alcançado extraordinária sabedoria, que tinha se tornado melhor do que eles, mesmo que em seu interior, suplicasse ser como eles, e ouvisse falhado, tentando entao, construir torres e muralhas que as deixassem dentro de sua bolha, longe de tudo! Era melhor viver em miséria, do que se tornar um rico solitário.
"Tanto pelo que viver" pensou, contraditóriamente, ao lembrar daquela cidade, bem ao longe, onde morava a pessoa que a havia ensiado a ver o melhor da vida e não enchergar só a gentalha do mundo, mesmo que não houvesse surtido tanto efeito agora.
Ela se apressou para mergulhar nos lindos olhos que a fitaram naquela tarde festiva, onde em seu concerto de piano, ele pareceu escrever sua vida, com as notas ritmicas com o pulsar de seu coração.
Escreveu cartas de amor nunca entregues. Descreveu eclipses, crepusculos e estrelas, tudo sendo comparado a raridade da essencia dele, tudo que ela havia jurado desistir logo no inicio, por que sabia que não poderia ter. Mas ele pareceu sentir sua descrença e se aproximou, parece querer lhe ensinar como é ser querido, um sentido nunca sentido por ela antes.
Ela o sentia perto, ele se aproximou tão vagaroso e carinhoso. Com seus carinhos, ela tinha certeza que havia encontrado um lugar para seu coração morar. Ele havia se tornado sua única força, a quem ela havia dado toda ela.
Mas o tempo passa e as pessoas mudam (não digo de personalidade ou de afeição, mas de residencia). Ninguém entendia a dependencia dela por ele, então a levaram para longe, muito longe de onde estava seu coração, que ainda pertencia e morava com ele. Ela só pode fitar sua vida se dissolvendo lentamente nos assenos amargos de "adeus" dele e na distância gradual que os separavam ainda mais.
Agora, longe por tanto tempo, aquelas antigas cartas não enviadas, se tornaram cartas de amor para ninguém.
"O tempo irá dizer esse adeus amargo" ela insistia em pensar, mas isso já se estendia por meses. Como ela queria não sentir mais o que sentia por ele, mas seria impossivel, ela sabia e já estava conformada com isso. Vc nunca esquece quem te ensina a andar, a falar, a escrever... a amar.
Ela saiu de seu quarto e desceu as escadas, a chuva pareceu entrar em sua casa, pois molhavam suas vestes e rosto. A chuva de seu olhos.
Abriu a porta e teve o prazer de ser molhada por aquela aguá natural e revigorante. Ela fitou as muitas nuvens cobrindo o céu e só pensou em uma solução para tudo aquilo, que ajudaria tanto a ela, quanto a ele e todos que ainda a amavam. Tirou a 'butterfly' de seu pai do bolço, que a muito já havia roubado. Com um olhar amedrontado, mas satisfeito, olhando ao redor dela mesma, cerrou os olhos e só sentiu o impacto da faca perfurando sua pele e logo chegando ao coração, que a tempo, deixou de bater de alegria.
Sua pernas logo perderam a força e cederam, deixando-a estirada na calçada de sua rua; sua bochecha resfriando com o cimento gelado e seus olhos logo perdendo a força para ficarem abertos. Ela só manteve o leve sorriso, pois seu cerebro ainda conseguia pensar nele. A respiração ficou mais lenta e fraca, e logo... parou.
"Eu não vivo mais para envergonhar eu ou vc.
Gostaria de ter demonstrado mais amor, para os que me amaram, mas não foi possivel, por que tiraram o que eu amei"
Tudo um desejo incitado pela noite e pela chuva...
E pelo piano, que parou de tocar as notas de sua vida.
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