Army Men.

Eu fui até o cômodo privado que havia ao lado da sala da fogueira. Era inevitável, sempre que estava naquele lugar revigorante eu admirava a janela que dava de frente para um infindavel lote de terra virgem. Lindo e imaculado, e principalmente, sem crateras fundas e pretas daquelas armas aerias que estavam assustando a todos nos ultimos tempos.

Aquela guerra parecia durar muito mais tempo do que o calendário dizia, tanto pelo estrago daqueles tempos e pelo fato de não ter a certeza que a existencia mais importante para mim, ainda ocupava seu lugar insubstituivel na Terra.

Me concentrando novamente em meu objetivo inicial, me sentei em minha escrivaninha, peguei um papel branco e minha caneta de ponta fina preta (minha preferida) e levei automaticamente à boca, fingindo refletir sobre como começar, pois na verdade sempre começava com a mesma frase:

"Meu Querido"

Depois da primeira linha preenchida pela metade, sempre seguia um padrão: pulava uma linha e começava um assunto; quando terminava de falar sobre, pulava outra linha e começava outro assunto, e assim sucessivamente. Eu gostava de fazer assim, sentia que deixava muito claro os assuntos e gostava que ele visse como era cuidadosa quando escrevia para Ele.

Eu escrevia e escrevia e logo já estava na terceira folha, falando o que havia feito de interessante nos dias de folga.

Ia preenchendo facilmente as folhas e ouvi o som da porta ranger levemente (definitivamente precisava de um oleo) e um pequeno ser entrou com um sorriso, olhando para mim com ansiedade.

Foi automático, soltei a caneta e abri os braços para ele, que veio correndo, um pouco desengonçado ao meu encontro. Beijei seu rosto e o abracei forte. A babá correu até a sala e se desculpou por ter se distraido e o deixado entrar. Eu a confortei e disse que ficaria com ele por um tempo.

Ele brincava com os babados cheios de meu vestido e eu o observava, era tão adorável, um anjinho lindo e imaculado do céu que veio para sempre me lembrar de como Ele era lindo.

Meu pequeno estava parecendo cada vez mais com Ele: Os cabelos loiros finos lhe caiam até o ombro, olhos inocentes, muito verdes (ambas características Dele), a pele bem branca e lisinha. Muitas vezes eu O via em miniatura naquele pequeno ser, naquele pequeno pedacinho dele.

"Como eu queria que vc visse como ele está parecido com vc" sussurei bem baixinho, abraçando o pequeno em meu colo.

Adorava olha-lo, parecia que Ele nunca havia ido quando estava tão maternalmente envolvida com aquele presente: com o nosso filho.

Com ele ainda entretido com o meu vestido, eu peguei novamente a caneta e terminei a carta, com a mesma frase de sempre:

"Eu te amo.

Volte logo para nós, sentimos sua falta.

Voltei com Honra"

Dobrei cuidadosamente a carta e coloquei no envelope, lacrado com minha saliva. Eu não confessaria se perguntassem, mas essa era minha parte preferida.

Virei a carta para o endereço, onde estava escrito em preto, com a caneta fina também:

"Força Especiais do Exercito Americano"

Respirei fundo e sorri para o garotinho lindo que examinava minha mão. A sua tão pequena, segurando meu dedo anelar, olhando para o anel de ouro de minha mãe esquerda.

Eu levei sua mãozinha até meus lábios e a beijei e senti como se houvesse novamente sentido o gosto daquele soldado em minha boca. O gosto do meu amado Marido.