Desespero. Que palavra mais abrangente. Quantos tipos de ‘desespero’ se pode ter? Aquele quando se perde algo, aquele quando não se sabe o que há de acontecer, aquele quando vc está com muitas coisas para pensar e não consegui se organizar... Aquele quando se perde alguém. Em todas as possibilidades de se sentir desesperado, se envolve ‘perder’ algo, ou não se saber onde está, ou se vc voltará a ver novamente aquela coisa, o ‘algo’ que é tão importante para vc. Sempre estão atrelados ambas as coisas: perda e importância.
O Desespero é uma dor na alma. Um sentimento forte e tão avassalador, que é impossível se controlar com o mínimo de razão. A dor da alma faz doer em seu corpo, e vc preferiria que sua pele fosse arrancada lentamente se seus ossos, do que sentir aquilo. Quando a dor é na alma, não se tem pomada, remédio ou qualquer outro tipo de cura, porque não se dá para chegar nela, mas é nessas horas que vc a sente, muito mais viva do que qualquer célula de seu corpo.
Na verdade, ela sempre foi avuada. Tinha uma excepcional facilidade de se concentrar em coisas levianas, quando se estava fazendo uma coisa importante. Ela sempre se pegava pensando em quanto tempo aquela arvore demorou a crescer para virar aquele papel quando estava olhando para a prova de um simulado ou de um vestibular, sempre pensava em como a tinta da caneta não deslizava levemente sobre o tubo e como seria se júpiter diminuísse de tamanho e se a Terra girasse ao contrario, quando estava dando um discurso importante ou lendo algo em voz alta na sala.
Mas não naquele dia. Por mais que tentasse usar suas incríveis habilidades de descontração rápida, naquele dia, naquela situação, naquele desespero, não funcionou de nada essa habilidade preguiçosa.
Ela se esfregava na fronha lisa de sua cama, desarrumando-a toda, com a esperança de que pudesse de algum modo, deixar um pouco desse sentimento preso naqueles fios trançados. Ela concordou sem pensar duas vezes, que se pudesse tirar um de seus pulmões e jogar no lixo, ficando assim, sem ar, mesmo quando dava apenas dois passos, isso é claro, na melhor das hipóteses, ela o aceitaria, apenas para fazer o acordo de trocar-lo pelo sentimento que parecia compactar, como faz uma maquina de lixo, todos os seus órgãos ainda vivos e pulsantes, dentro de seu corpo.
O desespero vinha daquela fonte, à fonte de incerteza e angustia, de medo e falta de fé, vinha dele. Seria impossível não sentir tudo isso só de pensar que possivelmente, não poderia mais ficar com ele. Não, não, não isso não era uma opção. Não podia ser. Sabia que não poderia ser assim. Ele era realmente o mundo dela agora, porque foi com ele que ela descobriu quem era, quem queria ser, porque queria ser e como poderia vir a ser. Sempre foi dividida entre seus mundos, sempre ficou encima do muro e olhou sem para ambos os lados, se agradando e dando mais atenção para um, depois para o outro. Sempre se incomodou com tal atitude, porque a duvida sempre vem quando ainda não se tomou a decisão, mas foi com ele que ela conseguiu tomar essa decisão, foi com ele que ela viu tudo que poderia ter e ser, e quando isso estava a frente de seus olhos, foi que ela notou seu sonho escrito naqueles olhos verdes esmeralda. Era um milagre, ela havia se encontrado com aquele reflexo desenhado minusculamente na Iris dele e havia visto tudo que queria ser. Finalmente a decisão foi tomada e ela sabia o que queria. Então como poderia ela não ter mais esses olhos? Não ter essa força que ele dava? Não ter mais a presença dele ao lado dela? Seria impossível suportar. A distancia, tudo bem, a separação, tudo bem, mas a perda, não, isso não, era demais, era... desesperador.
O desespero floresce de dentro para fora, ele dilacera a alma e depois consome o corpo. Mas o sentir, muitas vezes não é a pior parte, e sim a parte de que ele nunca a de deixar seu coração. Ele se instalou lá, perpetuamente, sem avisar ou pedir permissão. Ele sai as vezes, mas como todo filho a casa retorna, ele volta, as vezes com menos força, mas ainda está lá. Apenas amor e fé podem expulsa-lo e ela havia dito isso ara todos, como experiência própria.
Hoje, ela rega flores no jardim, mas já derrubou arvores na floresta, porque tudo que vem da alma, se reflete no físico. Ela rega flores hoje, com um sorriso, admite, mas o machado, sempre esteve do lado da porta.
O desespero floresce na gente assim que descobrimos que todos morrem, o desespero de sermos esquecidos e de nunca termos feito nada para mudar o planeta e a vida das pessoas.
ResponderExcluirPor mais que você não tenha gostado desse post, eu gostei. De certo modo me vi nele em algumas partes, pode ter sido por isso. :3